A demanda por proteína animal aumentará nos próximos anos, com uma estimativa que a produção deva se expandir em 40 milhões de toneladas até 2029 e esse crescimento deverá ter forte alicerce na sustentabilidade. Dentre as possibilidades de produção sustentável, investimentos em pesquisa nos “substitutos da carne” crescem impulsionados pelo aumento da demanda e número de adeptos de dietas restritivas de proteínas animais.
Mas a questão é: esses “substitutos” atenderão o viés da sustentabilidade aliado à qualidade nutricional e segurança alimentar, a um preço acessível? Sob a ótica de alguns pesquisadores e do movimento de grandes empresas do setor, daqui a alguns anos viveremos num mundo sem abate. Será? Muito difícil que isso se torne uma realidade.
“Carne” vegetal e micoproteínas
Uma alternativa é a carne a base de vegetais (planted based) apresentada ao consumidor como hambúrgueres, almôndegas, nuggets, etc. São produtos de bom valor proteico, porém com carência de nutrientes como vitamina B12, ferro e zinco, além de carnosina e carnitina. As micoproteínas são produzidas a partir de fungos em fermentação, cuja “massa micelar” produzida é colhida, processada e saborizada para virar um análogo de carne.
De laboratório
A carne cultivada é feita a partir de células retiradas de um animal vivo (aves, suínos, bovinos), processadas em biorreatores e alimentadas com oxigênio, aminoácidos, açúcares, vitaminas e minerais até que cresçam e formem tecidos. Após o processo de regeneração, esse tecido chega ao resultado do que seria um “bife” com a promessa de que ele tenha o mesmo sabor, textura e cheiro da proteína animal.
Vendas no Brasil devem começar em 2024
Singapura hoje é o único país a comercializar a carne de laboratório, no caso de frango. No final de 2022, a FDA emitiu a primeira licença para a comercialização desse produto. No Brasil, a expectativa é que a carne de laboratório comece a ser distribuída em 2024. A Anvisa já avalia a produção de duas opções: uma da BRF em parceria com a Aleph Farmse outra de bioengenharia nacional, a Ambi Real Food.
Sustentabilidade ambiental
Apesar de inicialmente parecer uma alternativa interessante, o cultivo de alimentos em laboratório precisa de aperfeiçoamentos, pois o processo gera grande quantidade de resíduos plásticos, químicos e tem uma alta demanda energética. Além disso, estudos recentes tem sugerido que, no longo prazo, o impacto ambiental da carne cultivada em laboratório poderá ser maior que da pecuária.
E a viabilidade econômica?
Dados recentes da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp mostram que hoje os substitutos são muito mais caros do que a “carne de verdade”. Por exemplo, 1 kg de hambúrguer vegetal pode custar, em média, R$ 100, enquanto 1 kg de carne moída bovina custa em torno de R$ 35. Se falarmos em carne cultivada, o valor do kg deve estar próximo a R$ 5 mil, considerando valores estimados de produção fora do Brasil.
Um grande desafio pela frente
É muito provável que, num futuro próximo, a carne cultivada seja acessível a um pequeno grupo de pessoas: as que não aceitam o abate animal e possuem bom poder aquisitivo. Mas para essa tecnologia minimizar os impactos ambientais da produção de alimentos no mundo, o desafio será muito maior. É preciso não apenas aumentar a escala de produção e reduzir custos, mas fazer com que o consumidor mude hábitos, adote e confie no produto. E essa decisão passa a ser do elo mais importante da cadeia produtiva. Você está disposto?